Hoje um grupo de pessoas se reuniu para meditar na Rodoviária. Era um sábado de manhã. O dia amanheceu ensolarado; uma dádiva nesses dias nublados. Mas seria uma dádiva em qualquer clima, na verdade, afinal, não é todo dia que sentamos no coração, no fígado, no centro nervoso, no baço, nos pés de Brasília. Um lugar de deslocamento frenético, com pessoas que vem e vão, mas também com pessoas que ficam e fazem de lá o seu lugar. Faríamos da rodoviária o nosso lugar, mesmo que por um momento.
Cheguei e esperei ao lado da Pastelaria Viçosa, como havia sido combinado pelo grupo que integra o Zen Brasília. Comecei o processo de estar. Observando o entorno. A fila da pastelaria estava gigante. A moça que varre o chão fazia uma pausa e também observava. Notei que ela tinha uma deformidade no pé e fiquei feliz que ela tivesse um trabalho. Aí chegou uma pessoa da Sangha (não sou integrante do grupo, só uma simpatizante-praticante-entusiasta). Com um sorriso, nos apresentamos, entabulamos uma conversa sobre como seria meditar ali. Logo outra pessoa chegou e mais outra e mais outra. Entre elas, a querida e divertida Monja Kakuzen, que sabe agregar as pessoas com genuíno interesse pelo outro.
Foi assim que percebeu que havia um moço, engraxate, que estava interessado naquela agregação diferente do cotidiano do lugar. O moço, olhando com grande interesse para a monja, perguntou: ‘Vai ter algum evento aqui?” Ao que a monja respondeu que sim, dizendo que iriamos meditar e o convidou. Ele retribuiu o convite com um sorriso e aceitou. Entre uma ponderação e outra, surgiam os personagens: A jovem, que olhando a todos nos olhos, riu e perguntou: “Vocês são do Brasil? Não acredito que estou no Brasil!” E saiu rindo, com se estivesse mesmo achando tudo muito peculiar. (E nós, também, afinal somos todos brasileiros, mas ainda estamos nos reconhecendo), e a senhora, que um tempo antes, passava falando sozinha – ou respondendo a um algum interlocutor imaginário – e que retorna para se apresentar, sorridente, apertando a mão de um a um num gesto formal, como ‘dona do lugar’ que se diz ser, defensora do povo e plena de riquezas. Afastou-se sorrindo.
Mais pessoas chegaram ao grupo e nos dirigimos ao lugar que foi decidido para meditarmos. Sentamos em roda, sobre os pedaços de papelão; tiramos os tênis, sobre os quais sentamos, e nos posicionamos para dar início à prática do Zazen.
…
Quantos sons ao mesmo tempo. Vindo de todos os lados. Os ônibus emitem vários sons diferentes… engraçado. Às vezes surge uma buzina dessas que enchem os ouvidos. POmmmmmmmm. Há muita gente conversando no lado esquerdo. Eu ouço “joga uma pedra?” Mas tudo tem um cheiro tão bom… Alguém passa e diz “É meditação”.
Um ônibus chega. … Outro ônibus. Que ventinho agradável. Burburinho. Sons intermitentes.
Que sensação boa esta de estar sentada aqui. O lado direito do corpo pede mudança de posição. Burburinho. Risadas. “Você vai comprar isso mesmo?” Chega o ônibus. Abrem-se os olhos.
…
Vejo as carinhas de felicidade. Que experiência bacana. Alguém sugere: “Vamos encerrar a manhã comendo pastéis?”
Na frente da Viçosa, onde a experiência começou, fotos para a posteridade.
Amor e gratidão. Gasshô!
No Budismo, as dificuldades são verdadeiras oportunidades
Usando nossas dificuldades e problemas para despertar nossos corações Comentário de Pema Chödrön:Quando li pela primeira vez os ensinamentos de lojong (“treinamento da mente”) em O Grande Caminho do Despertar pelo professor tibetano do século Clique aqui e continue a ler...